terça-feira, 1 de novembro de 2011

O que são underwriting e underwriter?

Hoje vamos falar de duas palavrinhas com origem na língua inglesa que, ao menos a princípio, parecem complicadas, mas não escondem nenhum grande segredo: underwriting e underwriter. Ambos os termos estão ligados ao processo de abertura de capital de uma empresa ao mercado (novamente em inglês, o famoso IPO, “initial public offering).

Underwriting significa “subscrição” e é exatamente o processo de lançamento de novas ações ao mercado em busca de interessados. Underwriting é o processo no qual os agentes que possuem recursos disponíveis demonstram desejo em adquirir ações da empresa que abre capital e subscrevem (demonstram formalmente o interesse) aquele papel. É uma operação que ocorre, portanto, no mercado primário. Não entendeu? Leia aqui opost “O básico da bolsa”

Mas a operação não é feita de forma direta. Ou seja, entre a empresa que abre capital (agente deficitário em busca de recursos para investir) e o público (agente superavitário que deseja aplicar recursos à procura de retorno) existe uma instituição (ou um pool de instituições) que promove o processo de subscrição. A esta instituição se dá o nome de underwriter. 

No Brasil, podem ser underwriter os bancos múltiplos, os bancos de investimento, as sociedades corretoras ou as sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários. 

Assim, underwriting é o processo, enquanto underwriter é o operador deste processo. 

Existem várias modalidades de underwriting. As duas mais conhecidas são underwriting de melhores esforços (best efforts) e underwriting firme (straight).

No underwriting de melhores esforços a instituição intermediadora (underwriter) se compromete a fazer o melhor para buscar interessados em investir nos papéis da empresa, mas o intermediário não assume qualquer compromisso caso as ações não encontrem boa acolhida junto ao público. Assim, os riscos são exclusivos da empresa emissora das ações, visto que esta não tem certeza de que atingirá o objetivo integral da captação de recursos para prover os investimentos planejados. 

No underwriting firme ocorre o contrário. Na contratação da operação, a instituição intermediadora (underwriter) assume o compromisso de subscrever todas as ações antes de revendê-las ao público, assumindo, desta forma, todos os riscos da operação. É evidente que no underwriting firme o underwriter recebe uma remuneração maior para aceitar o risco envolvido na operação.

domingo, 30 de outubro de 2011

O que é o Fundo Garantidor de Crédito?

Muita gente ainda vê com desconfiança as aplicações financeiras. Sem dúvida, essa desconfiança favorece a Caderneta de Poupança que, a despeito de sua baixa rentabilidade, é vista como um “porto seguro” por grande parte da população.

Muitos são os fatores que geram essa desconfiança. Um dos principais é o reflexo negativo gerado por longos períodos de má gestão monetária e, por extensão, baixa regulamentação do setor bancário. Quem viveu experiências como a hiperinflação da década de 1980 e suas diversas alterações monetárias (de Cruzeiro para Cruzado para Cruzado Novo e novamente para Cruzeiro) amargou uma séria desconfiança em relação à estabilidade econômica. Já os sobreviventes passaram pelo espúrio confisco da Caderneta de Poupança em 1990, executada como parte integrante do Plano Collor.  Para detalhes deste período recomendo a leitura de “A saga brasileira”, da jornalista Míriam Leitão.

Então, existem motivos para desconfiar das autoridades, dos bancos, da moeda e do próprio sistema financeiro.

Mas é preciso reconhecer uma profunda mudança a partir da implantação do Plano Real, em julho de 1994. A estabilidade monetária foi acompanhada de programas de saneamento das instituições financeiras. O melhor exemplo deste período foi o PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), levado a cabo no primeiro mandado de Fernando Henrique Cardoso e que pavimentou o árduo percurso até a Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2001.

É neste cenário de recuperação de credibilidade que surge o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Trata-se de uma associação cujos membros são os próprios bancos. Cada instituição integrante é obrigada a destinar mensalmente uma pequena parcela dos depósitos para o fundo. No final de setembro de 2011, o balanço do FGC mostrava um ativo circulante de R$ 21,7 bilhões.

Veja o que diz o estatuto do fundo: 

Art. 2.º - O FGC tem por objeto prestar garantia de créditos contra as instituições associadas, referidas no art. 6.º, nas hipóteses de:

I - decretação da intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição associada;
II - reconhecimento, pelo Banco Central do Brasil, do estado de insolvência de instituição associada que, nos termos da legislação em vigor, não estiver sujeita aos regimes referidos no inciso I;
III - ocorrência de situações especiais, não enquadráveis nos incisos I e II, mediante prévio entendimento entre o Banco Central do Brasil e o FGC.

Em linguagem simples e direta: se o banco quebrar, o Fundo Garantidor de Crédito dá garantias dentro de alguns limites para evitar danos ao sistema financeiro. Para os clientes pessoa física das instituições o limite atual é de R$ 70.000. É bom salientar que o valor é reajustado sem uma periodicidade definida. Quando o FGC foi instituído, há mais de 15 anos, esse valor era de R$ 20.000.

O FGC protege as seguintes modalidades: conta-corrente, poupança, CDB, letras de câmbio, letras imobiliárias, letras hipotecárias e letras de crédito imobiliário. É muito importante ressaltar que os recursos aplicados em fundos de investimento não gozam de garantias.   

Vamos a alguns exemplos:

1 – Você tem R$ 40.000 no “Banco A”. O banco quebra e você vai receber os R$ 40.000 do FGC.

2 – Você tem R$ 120.000 no “Banco A”. O banco quebra e você vai receber R$ 70.000 do FGC. Os R$ 50.000 restantes estão fora do limite de garantia.

3 – Você tem R$ 100.000 no “Banco A” e R$ 50.000 no “Banco B”. Os bancos quebram e você vai receber R$ 120.000 do FGC (R$ 70.000 relativos ao “Banco A” e R$ 50.000 ao “Banco B”).

4 – Você e sua esposa têm uma conta conjunta de R$ 110.000 no “Banco A”. O banco quebra e cada um vai receber R$ 55.000.

5 - Você e sua esposa têm uma conta conjunta de R$ 200.000 no “Banco A”. O banco quebra e cada um vai receber R$ 70.000. Os R$ 60.000 restantes estão fora do limite de garantia.

A partir do exemplo, podemos tirar algumas conclusões: 

a) A garantia é por CPF e por instituição financeira. Logo, os riscos podem ser reduzidos com a divisão das aplicações em mais de uma instituição financeira.

b) Quando a conta é conjunta, cada CPF goza do limite de R$ 70.000. 

E então, você aplicaria seu dinheiro em uma instituição pequena? Eu aplicaria até o limite de garantia! Basta conferir se esta instituição está integrada ao FGC (clique aqui para ver a lista completa). Aos desconfiados, vítimas de muitas vezes de anos de descontrole e incompetência das autoridades, digo que é preciso confiar.

Você se lembra do banco Bemerindus? Toda hora a televisão exibia, em meados da década de 1990, o comercial do banco com um jingle inesquecível: "O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa...". Pois bem, a despeito do jingle, o banco quebrou e, em 1997, quase 4 milhões de clientes da instituição foram restituídos pelo FGC.

A análise dos últimos 17 anos mostra uma melhora significativa do nível de credibilidade do sistema bancário e o crescimento das garantias aos aplicadores. Para ganhar mais é preciso confiar!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O que é Fundo de Investimento Imobiliário?

Recebi por e-mail o anúncio de um Fundo de Investimento Imobiliário (FII). Como o objetivo deste blog não é fazer publicidade, mas analisar as modalidades de investimentos e ajudar a educar os leitores, aproveito para falar um pouco sobre esse tipo de aplicação de recursos.

No livro “Mercado Financeiro – produtos e serviços”, o professor Eduardo Fortuna explica os fundamentos básicos dos FII:

“Esses fundos pretendem ser um agente formador de poupança estável de longo prazo. Os recursos são utilizados para fins imobiliários, dando liquidez e diluindo riscos do mercado imobiliário, ao mesmo tempo em que ajudam a reduzir o preço final da obra, graças à administração de recursos em escala. Para o investidor, é uma aplicação que tem a segurança de um imóvel aliada à liquidez de um título mobiliário.” (Esclareço que título mobiliário é um ativo que pode ser negociado no mercado de capitais, como, por exemplo, uma ação.)

Em linhas gerais, trata-se de uma maneira de investir em imóveis de forma conjunta, sem as preocupações inerentes à negociação direta nesse mercado. O alto volume captado permite aos gestores do fundo negociar integral ou parcialmente bens imóveis. Seja pela valorização e futura venda destes imóveis ou a locação a terceiros, o fundo obtém retorno financeiro dos investimentos e repassa, no mínimo, 95% dos lucros aos cotistas.

O FII se constitui como um fundo fechado, ou seja, não há emissão de novas cotas. Todas as cotas emitidas no início da distribuição farão parte do investimento até o fim. O prazo para funcionamento do fundo pode ser determinado ou indeterminado.

No momento em que adquire parte destas cotas, o investidor passa a receber os lucros proporcionais à sua participação. Além do ganho de escala (aplicação conjunta), o investidor também tem a possibilidade de vender suas cotas no mercado secundário, seja na bolsa de valores ou em mercado de balcão organizado para outro investidor. Ou seja, o proprietário das cotas pode negociá-las como se fosse um lote de ações.

Vamos a um exemplo prático. Imagine que o investidor tenha R$ 50.000,00. Com esse valor, ele não consegue comprar sequer meia casinha de subúrbio numa grande metrópole brasileira. Nos últimos cinco anos, o mercado imobiliário no País se valorizou demais. Pois bem, mesmo que conseguisse comprar uma pequena casa, teria que se preocupar com a burocracia própria desse tipo de transação (documentos, pagamento de impostos, etc). Além disso, como o objetivo do investidor não é morar no imóvel, mas obter lucro com o mesmo, ele terá de alugar ou vender a casa (neste último caso, por um preço maior do que pagou na compra). Assim, teria de contratar uma imobiliária para tentar localizar possíveis interessados.

Ao comprar cotas de um Fundo de Investimento Imobiliário, nosso investidor não vai se preocupar com qualquer aspecto burocrático, saberá que seu dinheiro estará aplicado em grandes empreendimentos (os FII costumam investir em imóveis comerciais, como shoppings centers) e o melhor: poderá vender a outras pessoas as suas cotas sem grandes complicações.

Claro, há riscos envolvidos no investimento. Dois são os principais perigos:

1 – O fundo não obter sucesso na gestão do patrimônio, incorrendo em prejuízo aos cotistas.

2 – Risco de liquidez. Os FII ainda possuem baixa liquidez no Brasil. Isso significa que os investidores podem encontrar dificuldade em vender as cotas. Aqui, o perigo tem similaridades com o investimento direto. Mesmo assim, a liquidez tende a ser maior que ao de um imóvel.

Os lucros dos FII são tributados na fonte a uma alíquota de 20%. Os gestores podem cobrar taxa de administração de performance.

Vou deixar aqui o link do anúncio do FFI que recebi por e-mail. Mais uma vez, digo que o interesse não é fazer publicidade do fundo, mas esclarecer os leitores. Atentem para o fato de que, das 15 páginas do material, 10 (isso mesmo, 2/3!!!) se referem aos “Fatores de Risco”. Não tenha medo. O investidor não foge do risco, ele apenas administra o risco. Vale a pena a leitura: clique aqui para acessar a apresentação.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O básico da bolsa

Vamos abordar alguns pontos que são fundamentais compreender ao planejar investir no mercado acionário. Antes de abrir conta em uma corretora de valores, faça a seguinte pergunta para si mesmo: “Você entraria numa gruta sem saber o que tem lá dentro?” Claro que não! O mesmo vale para a bolsa de valores. Algumas pessoas começam a comprar e vender ações sem saber do que se trata.

Uma ação é a menor parte do capital de uma empresa. É um pedacinho mínimo daquele empreendimento. Ao adquirir uma ação, você automaticamente se torna sócio da empresa. Claro, a não ser que você esteja no ranking de bilionários da Forbes, não terá dinheiro suficiente para ser notado pelos controladores e sua fatia seria ínfima.

Mas por que as empresas vendem ações na bolsa? Simples: para se capitalizar. Existem alguns instrumentos para as empresas buscarem dinheiro para realizar novos investimentos. Uma delas é abrir o capital e angariar recursos diretamente de investidores. Ao fazer isso, os “donos do negócio” permitem que parte do controle da empresa fique com o público. Em troca, obtém dinheiro para ampliar os investimentos e lucrar ainda mais.

Imagine o seguinte exemplo:

1 – Você tem uma fábrica de parafusos que possui um capital de $ 100 milhões e lucra $ 200 mil por ano.

2 – Você disponibiliza ações da empresa na bolsa de valores e aumenta o capital da empresa para $ 120 milhões. Com esse aumento de 20% do capital, você espera que seu lucro cresça 50% a partir dos novos investimentos.

3 – Você antes controlava 100% da empresa, agora controla 83,3% da empresa, mas seu lucro pulou para $ 300 mil ao ano, valor que não seria alcançado sem captar recursos.

4 – Como você ganhou novos sócios (os donos dos 16,6% restante do capital), terá que distribuir parte dos lucros aos investidores. Mesmo assim, a relação ainda é extremamente favorável a você, controlador da empresa.

É importante ressaltar que as empresas só captam recursos na primeira vez que negociam as ações na bolsa. Isso é denominado Oferta Primária de Ações (o famoso “IPO”, na sigla em inglês). A partir daí, as ações são negociadas diretamente entre os investidores no mercado secundário, sem gerar qualquer renda para as empresas.

Por que as pessoas compram ações? Basicamente por dois motivos. O primeiro deles, para receber parte do lucro gerado pelas empresas das quais são sócios (é bom lembrar que as empresas podem registrar prejuízo, o que deixa os acionistas sem remuneração). O segundo motivo para se comprar ações é a expectativa de que as mesmas se valorizem no mercado secundário. Em outro post vamos entrar em detalhes sobre valorização de ações.

domingo, 16 de outubro de 2011

Poupança não é investimento!

O produto financeiro preferido entre os brasileiros é, sem dúvida alguma, a Caderneta de Poupança. A explicação é simples: trata-se de um tipo de aplicação extremamente fácil de ser compreendida, além de contar com um grande incentivo do governo federal, que possui interesse direto na manutenção do volume elevado de depósitos.

Quando alguém diz que investe na poupança, faça o favor de dizer a esta pobre alma: “Poupança não é investimento!”.

Vamos entender o sucesso da poupança:

A aplicação do pode ser feita em qualquer dia. A partir da data do depósito, basta esperar 30 dias para que o dinheiro render. O resgate pode ser feito a qualquer dia e sobre os ganhos não incide imposto de renda.

O rendimento fixo é de 0,5% ao mês. A este índice é acrescida a variação da TR (Taxa Referencial). A taxa mensal de 0,5% garante uma rentabilidade mínima de 6,16% ao ano. Já a TR é um índice calculado pelo Banco Central para servir como uma taxa de juros com base no mês corrente e, via de regra, é bem pequena. Em caso de queda brusca da taxa Selic, a TR pode se tornar negativa, sendo, neste caso específico, desconsiderada para o cálculo da poupança.

Por isso, a Caderneta de Poupança fechou 2010 com rendimento anual de 6,8%, valor bem próximo ao acumulado até o momento em 2011.

Ok, é simples aplicar, mais fácil ainda resgatar, e facílimo de entender. Mas tem outro elemento que torna a poupança a campeã entre as aplicações financeiras. É o incentivo massivo do governo federal.

Por lei, a maior parte das aplicações tem como destinação as operações do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). O caráter social da poupança garante ao investimento a publicidade em larga escala.

Seria louvável o incentivo se não fosse o baixíssimo rendimento da poupança, que é quase integralmente consumido pela inflação. Ou seja, guardar os recursos na poupança significa, na maior parte do tempo, manter o poder de compra do dinheiro. E aí eu volto a questionar:

Isso é investir? Definitivamente não!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O que é benchmark?

Um dos objetivos deste blog é desvendar alguns jargões do mercado financeiro. Como qualquer outra área, as pessoas envolvidas em negociações financeiras usam termos específicos.

Não é só por aqui que isso acontece. Médicos usam termos específicos da medicina e advogados se expressam por meio de uma rica linguagem jurídica. Por que seria diferente no mundo financeiro? A linguagem técnica (ou jargão) tem duas funções principais:

1 - Conferir clareza e exatidão à comunicação entre profissionais de uma determinada categoria;

2 – Garantir legitimidade à categoria profissional, visto que somente os “iniciados” naquela área do conhecimento compreendem a linguagem usada pelos demais integrantes do grupo.

Então, vamos começar com uma palavra bastante usada para avaliar investimentos financeiros: BENCHMARK.

De forma bem simples e direta, benchmark significa indicador de desempenho ou, se preferir, parâmetro de referência.  O benchmark serve, portanto, como um alvo segundo o qual o investimento é avaliado.


Vamos fazer uma breve analogia. Imagine que uma equipe da NBA, liga profissional de basquete dos Estados Unidos, está à procura de um pivô para compor o elenco. As estatísticas mostram que os pivôs da NBA têm uma média de 20 pontos por partida (o exemplo é meramente ilustrativo, não sei quantos pontos fazem os pivôs da NBA e também não sei se o Kobe Bryant, que aparece na foto acima, é de fato pivô). Ora, esse é um ótimo parâmetro de referência para o time selecionar o reforço entre os atletas disponíveis. Os 20 pontos por partida seriam um “benchmark desportivo”. Os jogadores que fazem menos pontos estariam abaixo do benchmark, os que apresentam uma média superior de pontos estariam acima do benchmark.

De volta ao mundo das finanças, podemos dizer que dois benchmarks são amplamente usados no mercado brasileiro: o CDI e o Ibovespa (claro, existem vários outros). Falaremos mais de ambos em outros posts. Ora, se é oferecido a você um fundo de ações que tem como objetivo superar o Ibovespa, basta que você compare o principal índice da BM&FBovespa com o rendimento recente do fundo oferecido para avaliar se o investimento cumpre o que promete.

Assim, podemos dizer que o benchmark é um guia de referência tanto para a busca de retorno em investimentos financeiros quanto para avaliação dos resultados.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tempo é dinheiro: uma verdade matemática

Você já ouviu muitas vezes alguém dizer que “tempo é dinheiro”. Como se trata de uma expressão popular, não prestamos muita atenção às palavras e, portanto, o significado se perde.

Nos habituamos a dizer que tempo é dinheiro para atribuir um caráter de urgência permanente. Queremos, na verdade, verbalizar o pensamento de que “meu tempo é muito caro para gastar com o que não me traz retorno imediato”. Portanto, materializamos o tempo presente para dar a ele um valor real.

Mas “tempo é dinheiro” é uma verdade matemática. Aqui entra a dupla necessidade de poupar e investir. Basta que deixemos as amarras do “presente eterno” para instaurar o binômio presente-futuro.

O bê-a-bá do “poupar e investir” é o seguinte:

Poupar = não gastar agora

Investir = emprestar seu dinheiro em troca de juros

Juros = valor que você recebe de quem pegou seu dinheiro emprestado

Capitalização de juros = o valor pago pelo empréstimo volta ao montante e você ganha mais no próximo pagamento de juros

O caminho das pedras:

Etapa 1 – Não gaste agora!
Suponha que você poupou R$ 10.000,00. Este é o primeiro passo, sempre. Quem não poupa, não empresta.

Etapa 2 – Empreste seu dinheiro!
Você decidiu investir a quantia numa aplicação financeira que paga juros de 1,0% ao mês. Aqui está o segundo passo. Se você não vai gastar, empreste seu dinheiro a alguém que vai usar o seu dinheiro em troca de juros. Esse alguém é o banco (em outro post vamos explicar por que o banco paga para tomar seu dinheiro emprestado).

Etapa 3 – Espere!
Após 30 dias, você terá um saldo de R$ 10.100,00. Você esperou o prazo determinado na regra do investimento para que o dinheiro emprestado rendesse juros.

Etapa 4 – A multiplicação do dinheiro!
Depois de um novo intervalo de 30 dias, você terá um novo pagamento de juros pelo dinheiro que emprestou. Só que agora os juros de 1,0% vão incidir sobre o montante anterior e não sobre a quantia inicialmente investida. Assim, você terá ao final deste novo período um total de R$ 10.201,00 (R$ 1,00 a mais do que receberia se não fossem capitalizados os juros).

Repare que, se não houvesse a capitalização dos juros compostos, você receberia R$ 100 todo mês e esse R$ 1,00 nunca existiria. A palavra prosperar está intimamente ligada à paciência. Próspero tem sua origem no latim pro: “a favor de” e espero: “esperar”. Mas não basta esperar, é preciso que você (na verdade o seu dinheiro) seja remunerado pela espera. 

Mas você pode se sentir frustrado. Afinal, vale a pena esperar a capitalização dos juros para ter um retorno de R$ 1,00 em relação ao rendimento do mês anterior? Calma, aí está a mágica dos juros compostos! Quanto mais tempo você espera, maior será o retorno, porque o montante vai só crescendo. 

INVESTIR É SER PAGO PARA ESPERAR!

Veja a tabela com a evolução do investimento. Repare que a cada mês que se passa (mais uma vez, paciência é tudo quando se fala em finanças) o retorno cresce. No primeiro mês você recebe R$ 100,00 de juros. No segundo, recebe R$ 101,00, no terceiro recebe R$ 102,1...

O prêmio por esperar é receber um pagamento de juros de R$ 179,87 ao final de 60 meses. E o melhor: seus R$ 10.000,00 viraram R$ 18,166,97! Só para ficar claro, se não houvesse a capitalização de juros, o valor final seria R$ 16.000,00, R$ 2.166,97 menor do que no nosso exemplo.


Juros capitalizados
Rendimento
mês 1
R$ 10.100,00
R$ 100,00
mês 2
R$ 10.201,00
R$ 101,00
mês 3
R$ 10.303,01
R$ 102,01
mês 4
R$ 10.406,04
R$ 103,03
mês 5
R$ 10.510,10
R$ 104,06
mês 6
R$ 10.615,20
R$ 105,10
mês 7
R$ 10.721,35
R$ 106,15
mês 8
R$ 10.828,57
R$ 107,21
mês 9
R$ 10.936,85
R$ 108,29
mês 10
R$ 11.046,22
R$ 109,37
mês 11
R$ 11.156,68
R$ 110,46
mês 12
R$ 11.268,25
R$ 111,57
mês 13
R$ 11.380,93
R$ 112,68
mês 14
R$ 11.494,74
R$ 113,81
mês 15
R$ 11.609,69
R$ 114,95
mês 16
R$ 11.725,79
R$ 116,10
mês 17
R$ 11.843,04
R$ 117,26
mês 18
R$ 11.961,47
R$ 118,43
mês 19
R$ 12.081,09
R$ 119,61
mês 20
R$ 12.201,90
R$ 120,81
mês 21
R$ 12.323,92
R$ 122,02
mês 22
R$ 12.447,16
R$ 123,24
mês 23
R$ 12.571,63
R$ 124,47
mês 24
R$ 12.697,35
R$ 125,72
mês 25
R$ 12.824,32
R$ 126,97
mês 26
R$ 12.952,56
R$ 128,24
mês 27
R$ 13.082,09
R$ 129,53
mês 28
R$ 13.212,91
R$ 130,82
mês 29
R$ 13.345,04
R$ 132,13
mês 30
R$ 13.478,49
R$ 133,45
mês 31
R$ 13.613,27
R$ 134,78
mês 32
R$ 13.749,41
R$ 136,13
mês 33
R$ 13.886,90
R$ 137,49
mês 34
R$ 14.025,77
R$ 138,87
mês 35
R$ 14.166,03
R$ 140,26
mês 36
R$ 14.307,69
R$ 141,66
mês 37
R$ 14.450,76
R$ 143,08
mês 38
R$ 14.595,27
R$ 144,51
mês 39
R$ 14.741,23
R$ 145,95
mês 40
R$ 14.888,64
R$ 147,41
mês 41
R$ 15.037,52
R$ 148,89
mês 42
R$ 15.187,90
R$ 150,38
mês 43
R$ 15.339,78
R$ 151,88
mês 44
R$ 15.493,18
R$ 153,40
mês 45
R$ 15.648,11
R$ 154,93
mês 46
R$ 15.804,59
R$ 156,48
mês 47
R$ 15.962,63
R$ 158,05
mês 48
R$ 16.122,26
R$ 159,63
mês 49
R$ 16.283,48
R$ 161,22
mês 50
R$ 16.446,32
R$ 162,83
mês 51
R$ 16.610,78
R$ 164,46
mês 52
R$ 16.776,89
R$ 166,11
mês 53
R$ 16.944,66
R$ 167,77
mês 54
R$ 17.114,10
R$ 169,45
mês 55
R$ 17.285,25
R$ 171,14
mês 56
R$ 17.458,10
R$ 172,85
mês 57
R$ 17.632,68
R$ 174,58
mês 58
R$ 17.809,01
R$ 176,33
mês 59
R$ 17.987,10
R$ 178,09
mês 60
R$ 18.166,97
R$ 179,87